sábado, março 26, 2005

Encontros no infinitivo

Incompreensivelmente não me lembro do teu rosto, do teu choro ou das tuas palavras, na minha mente só se fixou aquele olhar que me deste à saída do café. Sabia que não voltar-te-ia a ver, sim eu sabia, mas não quis que o meu corpo o demonstrasse. Acaba por ser engraçado o quanto o ser humano consegue ser fútil, mesmo nas alturas mais desnecessárias e estúpidamente cruéis.~
Acendi um cigarro e sorvia o primeiro fumo que me ia inundando os pulmões, percebi que choravas enquanto caminhavas na direcção oposta, as tuas palavras já faziam prever isso mas eu não quis saber. Tudo o que haviamos dito durante tanto tempo deixou de ter sentido no momento em que te sentaste naquela mesa e abriste o coração triste e amargurado para mim, nada a não ser o caminho que tinhamos feito poderia justificar aquele desabafo mas ele aconteceu, não te consegui negar, não consegui dizer uma palavra sequer porque nada havia a ser dito mas muito a ser chorado... Mas nem isso consegui, simplesmente acendi o cigarro quando te vi a caminhar na direcção oposta e fiz o mesmo, com os primeiros passos senti a chuva a molhar o meu rosto e apertei o casaco. Fixei aquele teu último olhar... e já não chovia há tanto tempo...