segunda-feira, abril 25, 2005

Perfeições...admiravelmente incertas

Tudo o que é perfeito já por si só deixa de o ser quando esta palavra é pronunciada. Perfeito é estar nivelado com o chão, é manter a cabeça em baixo, é arranjar razões para não fazer o que tem de ser feito, é conseguir ver o sol num dia de intenso nevoeiro, é cheirar flores colhidas ao pé de um ribeiro seco, é ter tudo sem no entanto ter nada e ter na mão um ponto de interrogação agregado a um estado de completa confusão.
As notas desafinadas de um velho piano podem ser por muitos consideradas como a maior ofensa a todos os grandes compositores que já existiram, mas para outros aquele som é perfeito. É a prova da intemporalidade do que é ou foi ser perfeito. Ser perfeito está na moda e toda a gente adora lamber fotografias que se colam no interior das palpebras para que só lhes seja possivel ver perfeição. Falsidade e perfeição são tao distintas se bem que têm o mesmo número de letras. Se a quantidade fosse o objectivo seria tudo tão mais facil.
A chuva é perfeita para muitos, mas a invenção dos guarda-chuvas foi ainda mais perfeita para outros. As palavras quando bem utilizadas permitem atingir estados mentais demasiadamente perfeitos para ser verdade, se bem que muito considerem as palavras demasiadamente a sério para serem perfeitas. As palavras são únicamente o meio errado de um ser humano se expressar. Para isso se inventou a pintura, a escrita, a escultura. Para aperfeiçoar a imperfeição de que o Homem foi dotado.
Como se vê, ninguem sabe como, nem o que é ser perfeito. Só se sabe que não se quer ser imperfeito. Ser perfeito é nunca pensar em perfeição. O perfeito é não existir...

"some kind of eminence
some kind of reason
why I can´t find a way
to begin my life"